sábado, 6 de novembro de 2010

“A Triste História de Robert - IV”

Na tardinha deste mesmo dia ensolarado, todos estavam na casa de madeira, já era noite, a luz da lua adentrara a casa, clareando a mesma, com uma linda cor branca de nata! O vento frio da noite balançando-ia as folhas secas das árvores, enquanto as estrelas brilhavam mansamente. Mesmo com a chegada tímida da noite, parte do céu se fazia laranja, com a já enfraquecida luz do Sol que ia morrendo aos poucos.

Do lado de fora da propriedade, o Velho separava galhos secos para atear fogo, porque aquela região montanhosa faz muito frio à noite. Enquanto isso, dentro da casinha, Nayá fazendo-ia chá de ervas, enquanto Robert lia ao canto da parede um livro de Literatura Portuguesa. Com dor nos olhos, resolveu pousar no livro na pequena mesa de centro; e retirou-se da casa, para respirar o ar da noite com o Velho, que pusera nas luminosas brasas milhos para assar.

Mesmo com o frio a noite era muito agradável, era possível ver claramente as estrelas brilharem constantemente; e os luminosos vaga lumes que passeavam na mata.
Na porta da forte casa de madeira, Nayá surge com um bule de chá e três xícaras portuguesas, trazidas pelo Velho de Lisboa:

-O cheiro está muito agradável Nayá – disse Robert.

-Não é só o cheiro, Nayá sabe fazer chá – disse o Velho sorrindo com o rosto iluminado pelas chamas rasteiras da pequena fogueira.

-Obrigada Robert – disse Nayá com um largo sorriso, enquanto o Velho olhava as brasas faiscando.
O cheiro do chá de hortelã exalava-se no ar!
Deliciando-se do saboroso líquido sagrado, Robert fala docemente:

-Nayá, este chá está delicioso!

-Obrigada. Quer um pouco mais?

-Sim – disse Robert passando a mão na testa para jogar a franja dos seus cabelos aloirados para trás.

-Eu também quero um pouco mais – disse João verificando o milho nas brasas.

-Está bem – disse a pequena para ambos.

Robert olhava João mexendo nas brasas com um galho seco de goiabeira, enquanto Nayá os servia mais uma vez com o chá. As chamas lhe trouxeram lembranças de tempos de outrora, quando em criança presenciou dezenas de brutalidades cometidas pelos homens. Calou-se de ante a fogueira, que os iluminavam e aqueciam naquela noite fria. Nayá e João viram o rapaz calado; com os olhos cor de céu abertos, cravados na fogueira. Estranhando a atitude do rapaz, o Velho lhe pergunta:

-O que há Robert?

O rapaz olhou-o calmamente, e em seguida, disse-lhe calmamente:
-São essas chamas.

-As chamas? Que têm elas?

-Me trazem más recordações!

-Como assim? – perguntou Nayá.

-São lembranças do Paraíso das Águas!

-Ah sim! – observou João.

-Quando lá vivia com meus pais, isso ainda quando tinha apenas sete anos; via muitas pessoas sendo queimadas vivas! Nunca consegui compreender aquele povo! Por que há tanta maldade no coração dos homens?

-É a ganância filho! Como sabemos, há ouro em abundância no Paraíso das Águas. É abriga pelo ouro! Desde o inicio, os portugueses vieram com essa intenção.

-É verdade João – disse Robert – mas, meus pais foram mortos injustamente.

-Como assim? – perguntou Nayá.

-Robert nos conte essa história – disse João.

-Sim senhor.

Antes de iniciar a história tomou um pouco mais de chá para aquecer o corpo, pousou a xícara na grama, e começou contá-la detalhadamente:

“Quando chegamos ao Brasil, ficamos encantados com as belezas naturais! Lembro-me perfeitamente que era levado ao colo da minha bela mãe, que nunca me deixava só. Meu pai, um homem de coragem e saúde nos protegia de todas as formas; contra tudo e contra todos, porque não conhecia o território brasileiro. Porém, quando viu as belas árvores e os animais da região, mudou completamente de idéia. Tínhamos um único objetivo: morar no Brasil”.

“Vivíamos numa enorme região verde e florida, bem próxima ao Paraíso das Águas, com outras famílias portuguesas e brasileiras que viviam da colheita. A terra daquele local era fértil, muito boa para o plantio; era bem macia e solta. Mesmo com os meus sete anos de idade já trabalhava na colheita com papai, enquanto mamãe colhia frutas e legumes na horta. Como não havia escolas naquele local, recorríamos às igrejas, para aprendermos todos os ensinamentos divinos e básicos da educação. Até hoje não me esqueço dos ensinamentos do padre Rocha, que me ensinou passo a passo os caminhos da vida, após a morte dos meus pais”.

“contar-vos-ei agora a última vez que vi meus pais. Estávamos na estação das flores, vendo o bailar dos pássaros nas enormes montanhas esverdeadas que tocavam as nuvens cor de nata nas alturas infindas! Passeávamos juntos naquele dia lindo de Sol, em direção ao lago de água transparente. Pousamos o corpo na grama; e ficamos a olhar para o lindo céu azul, que estava completamente limpo! Com a cabeça encostada aos seios de minha amada mãe, dormia tranquilamente; enquanto papai estava à beira do lago a pescar. Estava feliz por estar vivendo cada dia que se passava, e olhava para o céu e agradecia mais uma vez a Deus, por proteger a mim e minha família. Estava muito feliz!”

“Voltávamos do lago pelo mesmo caminho florido do qual viemos, quando surgiram homens armados, a nos interceptar. Mamãe correra para me proteger, meu pai apenas olhava os homens assustado; sem reação alguma. Um deles aproximou-se lentamente e disse: “Vocês são traidores, sabemos muito bem que vocês ajudaram os holandeses a localizar o Paraíso das Águas”. Meu pai e minha mãe ficaram surpresos com as falsas acusações, tentaram argumentar dizendo para os homens que eram apenas uma pequena família de agricultores, mas, nem este argumento fora o suficiente para salvá-los. Com os olhos afogados em lágrimas, mamãe beijara-me pela última vez, e disse que partiria para sempre; pediu que eu procurasse o padre Rocha, para cuidar de mim. levaram meus pais para serem executados no Paraíso das Águas. Essa é a última lembrança que tenho dos meus amados pais”.

“Procurei o Padre Rocha assim como mamãe me pedira, expliquei o pouco que podia explicar porque eu era um menino de sete anos, e não tinha condições de explicar detalhadamente. Porém, um agricultor que estava escondido atrás dos arbustos viu toda a cena, e contou ao padre Rocha o que acontecera de fato. Via o pobre homem chorar de joelhos diante do padre que o olhava triste, vendo um homem se lamentar de não poder ajudar meus pais que foram levados por serem supostos espiões holandeses”.

“Estava sentado no banco da igreja defronte a imagem de Jesus Cristo, quando o padre Rocha pousou sua mão em meu rosto e disse: “filho, vamos rezar pelas almas dos seus pais”. Eu não sabia rezar, apenas fechei os olhos e pedi em vão para que os meus pais voltassem”.

“Após este lamentável acontecimento fui educado pelo padre Rocha, que me guiara tirando-me do “caminho” do mau; e conduzindo-me corretamente no caminho de Deus! Aprendi as lições divinas, a cultivar flores, e entender o mundo. Se há um homem na Terra além de Deus, a quem devo ser eternamente grato; esse homem é o padre Rocha, que cuidou de mim como um filho”.

Robert chorou, e continuou o restante da história:

“Eu começava a alegrar-me novamente para vida! Sorria para natureza, corria com os animais e brincava com as crianças dos vilarejos próximos! Estava recuperando a alegria de viver, conhecendo o mundo!”

“Em uma noite chuvosa e assustadora, trovões caíam a todo tempo. Estava na igreja com padre Rocha, vendo o tremular das chamas das velas nos lustres dourados, enquanto o padre lia a bíblia defronte a imagem de Jesus Cristo. Como o vento que vinha de fora era forte fechei a porta lateral para que as chamas das velas não fossem apagadas”.

“Quando voltava da porta lateral, tive uma terrível visão: vi o padre Rocha caído de bruços, junto de si a bíblia sagrada, a sua fiel companheira de muitos e muitos anos. Corri para socorrê-lo da maneira que pude; mas, pedira-me apenas que eu tocasse o sino da igreja, porque Jesus lhe chamava. Antes de fechar os olhos me dissera pela última vez: ‘sejas forte filho, onde eu estiver, cuidarei de ti’. E fechou os olhos sorrindo para mim, para nunca mais abri-los novamente. Minhas lágrimas despencaram caindo violentamente em seu rosto, que parecia feliz mesmo estando morto: morrera diante dos meus olhos”.

“Toquei o sino como me pedira, e logo a pequena cidade soubera da morte do padre Fernando Rocha Santos, o homem que me criou como um pai deixava-me para sempre”.

“Após a morte do padre Rocha, não tinha mais a quem recorrer. Passei a viajar pelas terras brasileiras em busca de paz, procurando o amor de alguém para acalantar-me, procurando uma família para ser amado; porém, não encontrara nada”.

“Andava pelo litoral a procura de paz, a olhar para as ondas enormes que vinham gigantescas do extenso oceano. Parei defronte ao mesmo, a olhar as nuvens passando por baixo do Sol, formando uma enorme sombra cá embaixo na Terra! Levantei-me rapidamente a continuar procurando a paz infinita!”

“No final do dia o Sol estava fraco, havia apenas uma fraca luz laranja atrás das gigantescas montanhas, que era “levada” pela escuridão da noite outonal”.
“Como a luz da Lua era forte, podia caminhar tranquilamente durante a noite, já que o litoral era ‘infinito’. Ainda seguia caminho, quando vi homens armados com espadas e armas de fogo. Tentei esconder-me, mas, não fora possível, porque a luz da Lua mostrava-me claramente”.

“Um deles, olhando-me com muito ódio perguntou: “de onde você vem garoto?”Fiquei calado, não sabia o que responder, e apontando-me para mim a ponta de sua espada afiadíssima, perguntou-me mais uma vez: “eu perguntei de onde você vem garoto!”E cortou-me o rosto fazendo-me sentir a dor pela primeira vez. Gritei desesperadamente com o rosto ensangüentado, pedindo para que ele parasse. Um dos homens deteve-o para que não me matasse, disse para ele que eu era apenas uma criança; que me levasse até o Paraíso das Águas, que no dia seguinte descobririam tudo sobre mim.”

“Foi assim que conheci o Paraíso das Águas, quando procurava paz, mas, acabei encontrando o que antes não conhecia: a violência dos homens. Na manhã seguinte, contei como vivia na igreja com o padre Rocha, cuidando dos campos, dos animais, limpando a igreja e cooperando com as demais pessoas da região”.

“Quando falei dos meus pais, passaram a me odiar para sempre. Diziam que eu era filho de traidores; afastaram as demais crianças do Paraíso das Águas de mim, acusando-me de ser “má influencia”; logo todo povo da região passou a odiar-me. Tentei ainda conhecer as pessoas da região, mas, todas elas me renegavam! Fiz coisas boas para tentar ser aceito por todos, porém, não fora o suficiente”.

“Passei a conviver frequentemente com a solidão, que fora por um longo tempo minha fiel companheira. Meu coração sangrava frequentemente, porque não tinha com quem conversar”.

-Que coisa horrível! – dissera Nayá em prantos ao colo de João que também chorava.

“Resolvi sair do Paraíso das Águas, em busca de uma nova família, caminhando por dias e dias pelas imensas florestas; até vocês me encontrarem. Tive medo contar a vocês a minha história, com medo de ser mais uma vez renegado”.

Robert pusera as mãos no rosto a soluçar, lembrando da sua triste história, em que vivera em tempos de outrora.

Aproximando-se de Robert, João lhe dissera:

-Robert, você agora está vivendo conosco; sua vida mudará a partir de agora.

-Obrigado João – disse Robert agradecendo-o emocionado.

As chamas da fogueira já estavam apagadas, mas as brasas permaneciam acesas, porém, bem fraquinhas.

Ficaram um pouco mais a conversarem sobre as coisas do mundo, enquanto comiam o milho quentíssimo que acabara de ser retirado da brasa. Nayá contava suas aventuras nos tempos em que vivia com sua tribo indígena, mas, logo fora interrompida por João que prometera contar a Robert detalhadamente a história da pequena.

A névoa cobria o céu escuro da noite, enquanto os vaga-lumes voavam em plena noite sombria! Todos já estavam dormindo na propriedade, enquanto o mundo girava, preparando-se para o dia seguinte...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

“A Pequena cidade de Ana Lúcia - III”

O dia estava ensolarado mais uma vez.

Todos já estavam de pé. Nayá preparava o café enquanto o Robert trabalhava no campo; e o Velho fora buscar o pão. Com uma velha inchada, Robert cavava enormes buracos para semear sementes.

O Velho entrara na propriedade, sem que Robert percebesse; instantes depois, Nayá chamara o Jovem:

-Robert, o café está pronto.

-Já estou indo – disse Robert com um aceno de mão.

Encostara a enchada na árvore, e foi para casa tomar o sagrado café.
O Velho trouxera muitas compras, Robert, vendo tudo aquilo, disse:

-O senhor devia ter me chamado – disse Robert sentindo-se mal na ocasião.

-Tudo bem filho, se eu falasse a ti que iria fazer compras, certamente viria comigo – disse o Velho sorrindo; e continuou – e além do mais, estou bem fisicamente, preciso mesmo fazer algumas atividades.

-Está certo – completou Robert compreendendo a atitude do Velho e abrindo um sorriso de contentamento.

O café da manhã fora um silêncio total, todos saboreavam prazerosamente aquele líquido negro, quente e agradável! O cheiro do café espalhava-se por toda casa; Nayá sabia fazer café como ninguém.

Ao término da refeição, todos foram para frente da casa, para descansar.
Nayá fora colher frutas enquanto Robert e o Velho ficaram na frente da casa a conversarem sobre as coisas da vida:

-Filho – disse o Velho amigavelmente – vou levá-lo para cidadezinha de Ana Lúcia, tenho parentes lá. Quer ir comigo?

-Sim – disse Robert.

-Então vamos.

-Vamos!
Ambos passaram pela casa de madeira e seguiram em frente.
O tempo estava agradável, a leve brisa do dia batia levemente no corpo dos cavaleiros! Seguiam por uma estrada de terra, em direção a cidade. No mesmo caminho passara um homem com chapéu de palha, o Velho o reconheceu de longe; e bradou:

-Olá Eugênio!

-Como vai João?

-Bem graças a Deus. E você nobre amigo?

-Estou bem. Diga-me: quem é esse jovem?

-É Robert, é um amigo que agora mora conosco.

Robert se apresentara para Eugênio educadamente. Curioso, Eugênio pergunta ao Velho:

-E como está a pequena índia?

-Está bem, fora colher frutas na floresta!

-Ah! – observou Eugênio arregalando os olhos.

-Estamos indo para cidade – disse o Velho.

-Vim de lá agora, as coisas andam bem por lá.

-Que bom! Estou levando Robert para conhecê-la, comprarei algumas coisas também. Se me der licença, deixe-me ir.

-Está bem. Você vai ao casamento de Manoel e Euzébia?

-Casamento? A filha do comerciante vai casar?

-É meu caro, está tudo pronto para o casório.

-Não fui convidado.

-Deixa disso homem! – disse Eugênio ao Velho.

-Mas...

-Não tem problema amigo. Você conhece a família do comerciante?

-Sim, conheço-a perfeitamente.

-Então meu caro, vá!

-Mas, como assim vá? – perguntou João coçando a barba.

-É que o Horácio disse que todos os conhecidos dele, podem ir sem problemas.

-Oh sim! Entendo. Quer dizer então que todos estão convidados certo? – disse João porque a cidade é pequena.

-Exato!

-Está bem, e quando vai ser o casamento?

-Daqui a duas semanas.

-Tudo bem. E quem é o noivo? – perguntou o Velho porque esquecera o nome do noivo.

-É seu Manoel.

-É o filho daquele fazendeiro de Barbacena?

-É ele mesmo.

-É boa gente. Formam um belo casal.

-Bom, até o dia do casório.

-Até.

Do alto dá estrada, via-se toda cidade. Isso porque a cidade era pequena. Ambos desceram conversando. Curioso, Robert pergunta ao Velho:

-Nayá é uma índia?

-Sim – disse o Velho sem esconder a verdade.

-Mas...

-Mas o que Robert?

-Deixa pra lá, depois pergunto-te.

-Tudo bem.

No centro da cidade de Ana Lúcia, alguns armazéns bem abastecidos. Barris de madeira para conservarem o vinho do Porto. Havia também, sacos de milho, café, farinha, arroz e feijão.

No meio do caminho, havia muitas tendas, a maioria de escravas alforriadas que vendiam peixes, legumes e frutas.

João e Robert adentraram em um dos armazéns. Pertence a um velho amigo de longos anos de João, que mora no local. Ao vê-lo, brada alegremente:

-Olá João! O que vai querer meu nobre e querido amigo?

-O de sempre Antônio.

-Quem é o rapaz?

-Este é Robert.

-Prazer em conhecê-lo rapaz – disse Antônio para o jovem.

-Igualmente – dissera Robert.

-Eu o trouxe para conhecer a cidade.

-É bom mesmo – completou Antônio.

-Este lugar é maravilhoso! – disse Robert fascinado.

-É sim filho – completou o Velho.

-Bem – disse Antônio para João – você já está sabendo quem vai casar?

-Sim! Encontrei Eugênio no caminho, contou-me tudo detalhadamente.

Antônio arrumava as compras de João, enquanto Robert observava uma escrava jovem, a vender alguns legumes frescos e bonitos.

Surpreendentemente, aparece Horacio, junto com a filha Euzébia, em direção ao armazém de Antônio:

-Olá Antônio! As mercadorias chegaram?

-Ainda não. Estou aguardando. Olá Euzébia!

-Oi seu Antônio como vai à família?

-Bem minha santa.

-Que bom!

-Olhe quem está aqui filha! – disse Antônio para Euzébia.

Euzébia olhara para o seu lado esquerdo, e vira João e Robert:

-Senhor João! Que bom encontrá-lo! Como está Nayá?

-Está bem querida.

-Quem é este jovem?

-É Robert.

-Prazer em conhecê-lo – e estendera a mãozinha para o jovem.

-Igualmente – e Robert a beijara respeitosamente as costas de sua mão direita.

-Este é Horacio – disse o Velho para o jovem.

-Prazer em conhecê-lo rapaz.

-Igualmente.

-Bem, vocês já sabem do casamento da minha filha não sabem? – disse Horácio para Robert e João.

-Sim sabemos – respondeu o Velho.

-Pois bem, vocês não deixem de ir certo?

-Tudo bem, iremos – disse o Velho.

-E Nayá como está João? – perguntara Euzébia mais uma vez.

-Está bem senhora.

-Não deixe de levá-la ao meu casamento.

-Tudo bem – respondeu o Velho.

E, olhando para o relógio de bolso, Horacio despede-se de João e Robert, e seguiu com Euzébia o caminho de casa.

Ao receber as compras de Antônio, João e Robert se despedem, e voltam para velha casa de madeira.

No meio do caminho, uma linda cena da natureza. Em uma velha goiabeira, dois sanhaços alimentavam-se com graça; o fruto da velha árvore.

A brisa fortalecendo-ia, levantando a poeira da estrada de terra, que estava seca. Bem ao longe, via-se uma linda fazenda, bem conservada; muitas plantações e uma enorme mansão; defronte ao jardim de flores de diversas. Inúmeras palmeiras enfileiradas formavam um lindo corredor natural; dando aspecto de um lugar “sagrado”. Mais ao fundo, cabeças de gados, e uma extensão enorme de campos verdes; e um lago enorme, completando-a bem ao fundo, com aves, árvores e animais; que os pais de Manoel criaram na propriedade. Alguns ex-escravos trabalhavam na propriedade, em troca recebiam alimentação e moradia. Este local é a fazenda de São Vicente dos Milagres, futura morada de Euzébia e Manoel.

sábado, 23 de janeiro de 2010

“A Dura Caminhada Para os Montes - II”

“A Dura Caminhada Para os Montes - II”



O dia nascera nebuloso e frio. Os pássaros já cantavam com a chegada do Sol; que mesmo escondido atrás das nuvens fluía seus raios dourados; começando o processo de “banho dourado” das divinas terras. Os gritos das araras e dos pardais no infinito da floresta; despertando o jovem sonhador; que se espreguiçara lentamente entre as folhas secas; e abrira os tristes e remelados olhos, recebendo mais um lindo e sublime dia de vida! Seu corpo estava sujo devido ao longo tempo que não se lavara; estava insuportável.


Levantou-se a olhar para o horizonte, ainda sonolento, apoiando uma das mãos num tronco de árvore, e lembrou-se da luz que vira no dia anterior, mas, não fazia ideia em qual direção ficava.


Olhou para trás e viu que já estava longe do Paraíso das Águas, já estava em um local desconhecido. O local o qual se encontrara agora, é um imenso mundo verde; porque há em abundância vegetações enormes; que impediam de a luz natural tocar-lhe por completo. Em meio esse enorme “mundo verde” encontra-se pequenas nascentes, onde pôde em uma delas, matar sua sede e lavar-se por completo.


Enfim abrira um pequeno foco de luz em meio aquele paraíso verde, era à saída do mundo verde. Ao sair da enorme vegetação, vê uma ponte de madeira; bem velinha, onde embaixo há um pequeno riacho, dando passagem para outro lado. Ele teme-a, e por ela não segue caminho.


Depois de três horas caminhando sem parar, o corpo pedia energia, e deitou-se sobre uma enorme rocha; ofegante, a olhar para o céu que brilhava intensamente. Coitado, não tinha mais destino, mal havia se alimentado e empacou ali mesmo. As intensas caminhadas durante a noite, fora demais para ele; caíra exausto sobre a rocha.
Do outro lado, há uma pequena casa de madeira grossa, bem construída, desenhada, polida por fora... Em frente um lindo jardim de flores aromáticas, outras plantações rasteiras e bem cuidadas!


Defronte ao quintal da casa, uma pequena princesa de cabelos negros e longos, brincava com um pequenino cãozinho, sorrindo largamente, por está ali, vivendo o momento sublime de sua jovem vida! Rolara na grama fofa da enorme casa o pequeno cãozinho, que também estava alegre.


Num momento de distração, o pequeno cãozinho vê ao longe o pobre jovem deitado sobre a enorme rocha, e começara a latir continuadamente. A pobre menina estranhara o seu bichano por alguns instantes, porém, quando olhara para trás, viu o pobre jovem; correra para enorme casa de madeira, quase defronte ao riacho.


A pobre menina entrara na sala ofegante e de cabeça baixa, mal conseguia falar, porque lhe faltara ar. Defronte de si, um senhor aparentando ter mais ou menos uns cinqüenta anos de idade, olhava para ela com um rosto castigado pelo tempo que jamais o perdoara. Vendo que a menina estava assustada, perguntou-lhe calmamente segurando-lhe as mãozinhas:


-O que aconteceu Nayá?


A menina não lhe respondera de imediato, estava se recuperando, instantes depois:


-Tem um homem lá fora deitado sobre a rocha do outro lado do riacho!


-Como?


O velho se surpreendera com a narração da pequena Nayá.


Lembrou-se logo que poderia ser algum inimigo se aproximando do seu território. Lembrou-se das antigas batalhas que tivera alguns anos atrás; para conquistar seu espaço na sagrada terra. Então, apoiou-se de imediato ao braço da cadeira de madeira, apagou a luz da vela, que estava sobre um pratinho de porcelana, e seguiu para onde se encontrara o pobre homem. Ia armado porque não sabia ele que se tratara de um pobre jovem. Ao vê-lo de longe, com os olhos cansados e profundos de sua pesada idade, lembrou-se de si mesmo; que vivera situação semelhante em tempos de outrora. Parecia ver a sua vida passar defronte de si. Porém, não era.


Vendo que era apenas um pobre rapaz, encostou sua arma ao canto de um barril, e foi em direção ao riacho.


Atravessou o riacho com cautela, em direção ao jovem que ainda dormia sobre a enorme rocha, porque sua força não era a mesma de sua juventude. Mesmo destruído pela sua pesada idade, aproximou-se do pobre jovem inofensivo, pegou-o no colo e levou-o até a sua pequena habitação de madeira.


Via marcas de feridas causadas por insetos que o castigara durante a noite cruel, e olhou para frente onde Nayá se encontrava, do outro lado do riacho; e disse-lhe ao longe:


-Pegue as ervas na gaveta do armário, ele está muito mal!


A menina correra de imediato para buscá-las, enquanto o Velho atravessava o pequeno riacho; mostrava uma força incrível nos braços gastos.


Ao chegar defronte a casa, deitara o pobre jovem na grama fofa que era cuidada delicadamente por Nayá, que conhece como ninguém a natureza. Fazia sombra, porque os três estavam protegidos pelas árvores. O Sol agora era um pouco mais fraco que dantes, porém, para segurança de uma vida, o melhor é deixá-lo a sombra fresca e deliciosa da mãe natureza.


Nayá trouxera uma pequena caixa, a qual continha vários tipos de ervas diversas. Com um pedaço de pano úmido, Nayá limpava o rosto do pobre jovem, enquanto o Velho socava algumas ervas, para misturá-las com água morna e dar ao enfermo.


A tarde chegava pausada, com os cantos das araras. Ouvia-se claramente o som das águas do riacho, que escorriam limpas e graciosas e calmas. A brisa era agradável. As borboletas passeavam entre as flores brancas que enfeitavam a fronte da casa; um pouco mais distante, podia-se ver outra habitação: era a Fazenda de São Vicente dos Milagres. Pois bem, deixemos os detalhes da fazenda para o capítulo a seguir.


Nayá e o Velho continuavam a tratar do jovem defronte a fortíssima casa de madeira que estava totalmente coberta pelo Sol, que engolira por inteira a mesma. Estava ainda desacordado o coitado do mancebo, pois, estava sendo vigiado constantemente por Nayá, enquanto o Velho saíra para pescar no riacho. Com um vestido de cambraia gasto pela necessidade de sua humilde vida, colocara um cesto com frutas frescas ao lado do jovem, e saíra para brincar com o pequenino cãozinho de estimação.


A beira do riacho com a vara de pesca em mãos, o Velho ao longe perguntara a pequena:


-Ele já abriu os olhos?


-Não – disse a pequena sorridente a correr atrás do bichano que sempre estava agitado.


Uma pequena família de patos passeava defronte a propriedade, todos enfileirados, a mãe ia à frente; enquanto os filhotes seguiam-na tranqüilos. O pequeno cãozinho correra em direção aos pobrezinhos que mal caminhavam ainda, porque não tinha forças o suficiente para correr. Ia em média velocidade, até ser seguro pelo jovem que finalmente acordara:


-Acalme-se amiguinho!


Abraçava o pequeno bichano com um largo sorriso! Estava bem disposto e tranqüilo na sua paz sublime! O cãozinho latia insistentemente suspenso no ar, enquanto o jovem sorria de contentamento para o pobre animal.


Ao ver Nayá, pousa o bichano na grama rasteira e vai em direção a ela:


-Antes de me apresentar a você e ao seu pai, devo agradecê-los por cuidarem de mim. Eu me...


Quando ia proferir a palavra, o Velho perguntara-o de onde vinha e qual era a sua intenção ao circular pelas aquelas terras. Sem titubear, o jovem lhe respondeu:


-Eu refugiei-me cá, para livrar-me do Paraíso das Águas.


-Você também veio de lá? – perguntou à pequena Nayá curiosa, porque conhece aquela
região como ninguém.


-Sim – respondeu o jovem educadamente.


-Maldito Paraíso das Águas! –resmungou o Velho com fúria!


-O Senhor também já morou lá? – perguntou o jovem curioso.


-Sim! – respondeu o velho com entusiasmo.


-As pessoas lá são muito egoístas e incompreensíveis – disse o jovem para o Velho e para pequena Nayá.


-Nós sabemos – respondeu Nayá afirmativamente.


-Isso não é verdade – disse o Velho discordando do que ambos disseram, e continuou – conheço muitas pessoas lá, e sei muito bem como é aquele ambiente. As pessoas são boas; isso eu lhes garanto, porque lá vivi por muitíssimo tempo. Porém, há pessoas más também.


-Não é possível - disse o jovem inconformado com as palavras do Velho.


-Claro que é possível. Morrer-lá-ia caso não fosse à estúpida guerra do ouro! Por que você diz isso? Tu deves ter um motivo muito forte para nos dizer isso, porque naquele lugar, só não vive feliz quem não quer. Afinal de contas, qual é o seu nome?
O jovem ficara calado pelo impacto das palavras do ancião, e logo se apresentou para ambos:


-Eu sou Robert, vim de Coimbra em umas das dezenas de naus que viera cá para o Brasil; refugiando-se das tropas de Napoleão, procurando uma vida melhor...


-Prazer, eu sou Nayá – disse a menina com um largo sorriso de alegria!


-E eu sou João Rodrigues, mas, pode me chamar de Velho das Montanhas.


-Mas... Por que Velho das Montanhas? – perguntou Robert.


-Olhe a sua volta.


Ao ver todo o território que se encontrava, encantara-se com a beleza e as enormes montanhas que os rodeavam; repletas de rochas gigantescas e vegetações infindas. Via as aves sobrevoarem suas cabeças e o bailar das borboletas, que brincavam com as mais belas e delicadas flores cheirosas; que habitavam aquela imensa região. Muitas dessas montanhas choravam a todo tempo; isso porque havia fontes inesgotáveis de água; e conseqüentemente, essas fontes formavam muitas cachoeiras, que formavam também, as fluentes dos inúmeros riachos; que eram quase infinitos... Admirado com a bela paisagem verde, Robert fala docemente:


-É lindo este lugar!


-É sim – respondeu Nayá com orgulho e satisfação!


-É o lugar mais precioso do mundo, disse o Velho exageradamente!


-Você deve estar com fome, coma algumas frutas – disse Nayá para Robert que estava sentado em um velho tronco.


-Vá meu filho – disse o Velho concordando com a pequena Nayá.


-Espere.


-O que foi Nayá?


-Nada, deixe que eu mesma leve-as para ele.


-Pois bem! – concordou o Velho.


Nayá fora até a frente da residência; pegar o cesto com as frutas, enquanto o Velho conversava com Robert:


-Você disse que estava procurando um lugar melhor para viver certo? Viva conosco! Aqui é um ótimo lugar!


-Sim é fabuloso! Vocês são muitos generosos, obrigado pela hospitalidade!


O Velho apenas sorrira de satisfação, com o coração alegre!


A natureza ia fazendo sua parte. Contava mais ou menos quatro horas da tarde; talvez de sábado ou domingo, era um belo dia! Três folhas secas desprenderam-se de um galho velho e seco, caem no chão; e logo são levadas por uma leve brisa que passava rasteira. Já era possível ouvir o canto das cigarras ao longe, e, a beira do pequeno riacho, alguns animais bebiam água, porque o calor era muito forte. Ao longe, em direção a pequena cidadezinha de Ana Lúcia, podia-se ver o lindo pôr-do-sol; que dormira atrás das sagradas montanhas; para acordar alegre no dia seguinte!
As estrelas iam aparecendo aos poucos. Ainda era possível ouvir o canto dos pássaros, que ainda ecoavam agradavelmente. O céu fazia-se cor de vinho, a lua iluminava todo o ambiente, que tinha apenas um morto silêncio! O canto dos grilos a noite ajudava a completá-la, enquanto luz da lua derramava-se sobre a Terra!
Na casa de madeira, somente Robert e o Velho estavam acordados, exceto Nayá, que dormia com os anjos. Robert falava para o Velho como era a vida no Paraíso das Águas; das pessoas que lá vivem e do progresso! O Velho balançara a cabeça negativamente, e disse para Robert:


-Aquele lugar será destruído pela ambição do homem! Como pode haver progresso, em um lugar, onde todos só pensam na extração do ouro?


O jovem Robert calou-se. O Velho continuou e encerrou a noite:


-Filho – disse o Velho docemente para o rapaz, e continuou – a ganância dos homens fizera-me sair de lá. Eu também quando saí de Lisboa, pensava encontrar ouro e outras especiarias, porém, o que Deus reservou para mim, foi este lindo lugar. Hoje moro cá, em paz, não tenho mais interesse algum pelo ouro ou por outra jóia preciosa, quero apenas viver minha vida que já se esgota, devido ao tempo. O tempo é um grande vilão sabia? Quando você se dá com ele, percebe que o mesmo lhe faz envelhecer. Vamos dormir, já é hora Robert.


-Sim senhor.


O velho pousou ali mesmo, no tapete dá sala, e disse para Robert:


-Suba a escada de madeira, lá tem uma alcova para ti. Já está arrumada; é só deitar-se e dormir.


Robert carregava consigo um pequeno candelabro, porque a casa estava dominada pela escuridão.


Na sala, o Velho apaga a luz do candeeiro, e pousa a cabeça levemente no travesseiro. Deitado no tapete da sala, o Velho faz um pequeno comentário sobre Robert: “parece ser um bom garoto” pensava ele. Sentiu a leve brisa que adentrava pela janela sem pedir licença, e, fechou os olhos; e morreu no profundo e maravilhoso sono!

sábado, 12 de dezembro de 2009

“Um Novo Paraíso - I”

Fora em tempos de outrora, jamais vivido pelo mundo de hoje. Havia vegetações infindas naquele extenso paraíso verde; tomado pela fauna! Hoje, em plena floresta amazônica, infelizmente; só há devastação. Naquela época, podia-se respirar o ar puro da natureza, tranqüilamente; como um perfume suave de uma flor, que espera ansiosamente a chegada do beija-flor, para beijá-la infinitamente. Os animais passeavam livremente, macacos voavam de galho em galho habilidosamente, causando com o forte impacto da cauda, a queda de algumas folhas mortas. Na árvore à frente, uma cobra espreitava entre as folhas cautelosamente um ninho de rolinhas bem robustas, que alimentavam seus filhotes.


Na parte plana do da floresta, gados pastavam sem receios de serem capturados pelos homens cruéis e satânicos; que dominam o mundo de hoje. Nessa época, em que o mundo era “pacífico”, os animais e as pessoas viviam num ambiente natural e harmônico; cercados por pequenos riachos, árvores frutíferas...


Podia-se andar livremente naquele lugar suave e prazeroso de se viver; sem se preocupar com nenhum temor, porque as pessoas que habitam aquela região, não sabiam de fato, o que era maldade; porque todas têm coração puro.


Nos pequenos riachos, crianças e adultos banhavam-se, enquanto algumas lavadeiras, a maioria escravas alforriadas, tinham um árduo trabalho; batendo roupas de linho nas rochas, descascando batatas, lavando peixes... Nem tudo era belo, pelo menos para os negros, que sofriam constantemente com a “opressão branca”, fato que deixara feridas incicatrizáveis, pelas infinitas açoitadas disparadas pelo ódio que tinham dos pobres coitados, que viviam nas senzalas impuras, como animais enjaulados; só por terem a cor da noite. Fora isso, não havia perigo nenhum neste paraíso; que todos nós sonhamos ter.


Os animais eram meigos e delicados, assim como uma pétala de rosa que desabrochara naquele imenso jardim perfumado e bem cuidado pela natureza. À pequena lebre pulava alegremente nos braços da pequena criança; que brincava alegremente naquele jardim natural e doce, onde os habitantes se sentiam bem.


Os homens trabalhavam infinitamente para o sustento de seus familiares, era raro ver pais e filhos juntos porque naquela ilha, se ninguém trabalhasse para o sustento de seus familiares, não haveria como ninguém sobreviver, porque os adultos eram a fonte de sustento das pobres e famintas crianças, que habitara aquela imensa região, chamada pelos mesmos de “Paraíso das Águas”; pelos seus riachos e cachoeiras, que pareciam infinitos.


O Paraíso das Águas é cercado por inúmeras montanhas e arvoredos. Os campos pareciam perfumados de tão limpos; as aves enfeitavam sempre aquele imenso céu azul, que é a coisa mais sublime do mundo; era simplesmente na visão de muitos, o “Campos Elíseos!”


Quem poderia imaginar um lugar tão belo como esse? Nem mesmo Jesus Cristo, porque de fato, não criara o mundo; apenas nascera nele, após alguns milênios; minto: após alguns milhões de anos.


O povo dessa região pacifica é muito religioso; tanto é que muitas pessoas, a maioria senhoras idosas e mulheres jovens e prendadas, e lindas como a flor; andavam com esculturas de santinhas feitas de madeira e crucifixos; com Jesus Cristo pregado ao meio. Aquele povo era como as pedras que permanecem intactas nas desertas montanhas, que “vivem” isoladas com as névoas ondulantes!


Em meio a esse povo, há um jovem sonhador; como todos os jovens do planeta, mas, ele era especial. Trabalhou desde cedo e ainda trabalha duramente no milharal e no canavial. Teve pais, porém, foram mortos por uma suposta traição ao Paraíso das Águas; que nunca fora confirmada. Após este incidente lamentável – passou a ser odiado pelas pessoas que habitam essa região sagrada – onde se encontra ouro em abundância. Tivera o rosto ferido com uma espada, fato ocorrido logo após a morte do padre Rocha, seu último amigo até então.


Após este fato duvidoso, passou a ser renegado pela população que, até então, nunca o conhecera; porque fora influenciada pelos homens da região a odiá-lo; sem nenhum motivo cabal.


Tivera uma vida digna de amor, palavra doce que por pouco não morrera, graças a sua perseverança. Teve forças para continuar a acreditar no seu esforço e apagar as escritas do passado dos seus pais.


Dedicou-se a isso.


Foi bom para as coisas da vida e ajudara sempre de boa vontade as pessoas mais necessitadas, no intuito de melhorar cada vez mais sua imagem diante daquele povo “sagrado”. Porém, fora em vão.


Continuou sendo odiado, pois, ainda guardavam mágoas inexistentes do pobre garoto, que apenas queria encontrar a paz.


Tentara sempre ignorar o desprezo que recebia de todos a todo instante. Não adiantara.


Magoado pelo desprezo que sofrera daquele maldito povo ingrato, partira sem destino; indo apenas encontrar a paz infinita, a qual era o seu maior sonho. O Sol castigava-lhe intensamente, deixando-o cansado e impaciente. O clima era agradável, ventos leves, campos verdes, pequenas propriedades e alguns escravos, comprados pelos senhores da região que dominara maior parte dessas terras.


Subia os montes quase a desabar; procurando o lugar dos seus sonhos; onde ninguém pudesse importuná-lo.


Via as aves passearem pelos galhos secos da amendoeira, enquanto um bem-te-vi esticava-se todo, para soltar seu canto melódico como a flauta doce. Cansado, senta-se e olha o pássaro, apoiando as costas em uma velha árvore centenária; desvia o olhar para o céu deserto, que no momento tinha poucas nuvens.


Fechou os olhos procurando algum sonho bom; e não encontrara nenhum; apenas o mundo escuro, cinzento e nebuloso. Sentia os zéfiros acariciando seu corpo levemente como se fosse carícias de mãe; porém, não era. Era sim carinho de mãe, a mãe da fauna, a mãe natureza.


Olhava para o imenso céu azul, tentando entender o mundo; que jamais o compreendera. Sua mente vagava no ar buscando a solução para tirá-lo desta solidão infinda. Seus olhos umedeciam de tristeza, porque não havia ninguém para compartilhar suas dores internas. Sofria só, ali, bem no canto encostado à árvore centenária, vendo o espetáculo das borboletas que rodeavam um pequeno jardim natural de flores rasteiras.


Fechara os olhos e dormira, descansando completamente o corpo; que já estava esgotado de tanto cansaço. Dormira profundamente; num sono tão leve e gostoso que não queria mais acordar...


Enquanto esse pobre jovem dormia, o Sol escondia-se atrás das montanhas, despedindo-se da tarde que se retirava para dar lugar a noite. Aos poucos, era possível ouvir o canto das cigarras ao longe, bem longe, encerrando o dia.
A lua descia enorme e brilhante sobre a Terra, que descansava do cansaço do dia que fora deveras muito pesado.


A brisa da noite aumentava, e aos poucos, os vaga-lumes iluminavam o pequeno campo que já escurecia pela chegada magistral da noite. O pobre jovem acabava de acordar espreguiçando os braços e abrindo largamente a boca de cansaço físico. Olhava para o céu com dificuldades, e via algumas estrelas vagarem pausadamente, mudando-se de posição, talvez por “cansaço”, de tanto ficarem paradas no mesmo lugar.


Ao longe, vira uma enorme luz que brilhava intensamente; como o Sol queimando a Terra, ficara curioso de lá chegar; mas, como? Era noite, e não havia possibilidade alguma de lá chegar, enquanto o Sol não pousasse novamente sobre a sagrada terra.
Forçou um pouco mais os olhos e viu que era uma pequena casa de madeira, a luz deveria ser de um velho candeeiro de querosene, que clareava aquela propriedade. Enfim resolveu dormir novamente, para cedo acordar e quem sabe lá encontrar o seu novo paraíso? Deitara-se novamente, sobre a grama fofa do jardim natural apenas esperando a noite passar; para dar lugar novamente ao dia, que estava prestes a chegar...

Prólogo

Prólogo
Nunca imaginei ver todas às belezas naturais, de imensas cascatas, animas silvestres, vegetações evaporarem com o passar dos anos. Às terras férteis estão morrendo, a água potável, está se esgotando a cada dia...

Árvores gritando, animais chorando, águas não mais desaguando: a Terra está morrendo. Hoje, vejo apenas às impurezas do presente, causadas pelas fábricas, pela ganância do homem, destruindo tudo desordenadamente, sem se preocuparem com o meio ambiente.

O capitalismo manda e desmando sobre as leis, que são derrubadas frequentementes, por políticos, que mexem sempre na constituição; e tampouco se importam com o povo que o elegera.

Sou apenas um velho senhor, que tem saudades das folhas verdes, das águas limpas, e de toda fauna, que diminui aceleradamente, porque seus leitos são destruídos impiedosamente. Tudo que faço hoje é apenas contar histórias, contadas pelo meu avô, e que hoje as conto para os meus netos; de como o mundo era, naqueles tempos de outrora...

Contar-lhe-eis agora, como o mundo era há anos atrás, um paraíso, que jamais será visto pelo mundo capitalista. Venham comigo leitores, e participem desta história, se agradável ou não, sou suspeito para dizer-vos; façam seus julgamentos.
Começa agora: “O Velho das Montanhas”.