O dia estava ensolarado mais uma vez.
Todos já estavam de pé. Nayá preparava o café enquanto o Robert trabalhava no campo; e o Velho fora buscar o pão. Com uma velha inchada, Robert cavava enormes buracos para semear sementes.
O Velho entrara na propriedade, sem que Robert percebesse; instantes depois, Nayá chamara o Jovem:
-Robert, o café está pronto.
-Já estou indo – disse Robert com um aceno de mão.
Encostara a enchada na árvore, e foi para casa tomar o sagrado café.
O Velho trouxera muitas compras, Robert, vendo tudo aquilo, disse:
-O senhor devia ter me chamado – disse Robert sentindo-se mal na ocasião.
-Tudo bem filho, se eu falasse a ti que iria fazer compras, certamente viria comigo – disse o Velho sorrindo; e continuou – e além do mais, estou bem fisicamente, preciso mesmo fazer algumas atividades.
-Está certo – completou Robert compreendendo a atitude do Velho e abrindo um sorriso de contentamento.
O café da manhã fora um silêncio total, todos saboreavam prazerosamente aquele líquido negro, quente e agradável! O cheiro do café espalhava-se por toda casa; Nayá sabia fazer café como ninguém.
Ao término da refeição, todos foram para frente da casa, para descansar.
Nayá fora colher frutas enquanto Robert e o Velho ficaram na frente da casa a conversarem sobre as coisas da vida:
-Filho – disse o Velho amigavelmente – vou levá-lo para cidadezinha de Ana Lúcia, tenho parentes lá. Quer ir comigo?
-Sim – disse Robert.
-Então vamos.
-Vamos!
Ambos passaram pela casa de madeira e seguiram em frente.
O tempo estava agradável, a leve brisa do dia batia levemente no corpo dos cavaleiros! Seguiam por uma estrada de terra, em direção a cidade. No mesmo caminho passara um homem com chapéu de palha, o Velho o reconheceu de longe; e bradou:
-Olá Eugênio!
-Como vai João?
-Bem graças a Deus. E você nobre amigo?
-Estou bem. Diga-me: quem é esse jovem?
-É Robert, é um amigo que agora mora conosco.
Robert se apresentara para Eugênio educadamente. Curioso, Eugênio pergunta ao Velho:
-E como está a pequena índia?
-Está bem, fora colher frutas na floresta!
-Ah! – observou Eugênio arregalando os olhos.
-Estamos indo para cidade – disse o Velho.
-Vim de lá agora, as coisas andam bem por lá.
-Que bom! Estou levando Robert para conhecê-la, comprarei algumas coisas também. Se me der licença, deixe-me ir.
-Está bem. Você vai ao casamento de Manoel e Euzébia?
-Casamento? A filha do comerciante vai casar?
-É meu caro, está tudo pronto para o casório.
-Não fui convidado.
-Deixa disso homem! – disse Eugênio ao Velho.
-Mas...
-Não tem problema amigo. Você conhece a família do comerciante?
-Sim, conheço-a perfeitamente.
-Então meu caro, vá!
-Mas, como assim vá? – perguntou João coçando a barba.
-É que o Horácio disse que todos os conhecidos dele, podem ir sem problemas.
-Oh sim! Entendo. Quer dizer então que todos estão convidados certo? – disse João porque a cidade é pequena.
-Exato!
-Está bem, e quando vai ser o casamento?
-Daqui a duas semanas.
-Tudo bem. E quem é o noivo? – perguntou o Velho porque esquecera o nome do noivo.
-É seu Manoel.
-É o filho daquele fazendeiro de Barbacena?
-É ele mesmo.
-É boa gente. Formam um belo casal.
-Bom, até o dia do casório.
-Até.
Do alto dá estrada, via-se toda cidade. Isso porque a cidade era pequena. Ambos desceram conversando. Curioso, Robert pergunta ao Velho:
-Nayá é uma índia?
-Sim – disse o Velho sem esconder a verdade.
-Mas...
-Mas o que Robert?
-Deixa pra lá, depois pergunto-te.
-Tudo bem.
No centro da cidade de Ana Lúcia, alguns armazéns bem abastecidos. Barris de madeira para conservarem o vinho do Porto. Havia também, sacos de milho, café, farinha, arroz e feijão.
No meio do caminho, havia muitas tendas, a maioria de escravas alforriadas que vendiam peixes, legumes e frutas.
João e Robert adentraram em um dos armazéns. Pertence a um velho amigo de longos anos de João, que mora no local. Ao vê-lo, brada alegremente:
-Olá João! O que vai querer meu nobre e querido amigo?
-O de sempre Antônio.
-Quem é o rapaz?
-Este é Robert.
-Prazer em conhecê-lo rapaz – disse Antônio para o jovem.
-Igualmente – dissera Robert.
-Eu o trouxe para conhecer a cidade.
-É bom mesmo – completou Antônio.
-Este lugar é maravilhoso! – disse Robert fascinado.
-É sim filho – completou o Velho.
-Bem – disse Antônio para João – você já está sabendo quem vai casar?
-Sim! Encontrei Eugênio no caminho, contou-me tudo detalhadamente.
Antônio arrumava as compras de João, enquanto Robert observava uma escrava jovem, a vender alguns legumes frescos e bonitos.
Surpreendentemente, aparece Horacio, junto com a filha Euzébia, em direção ao armazém de Antônio:
-Olá Antônio! As mercadorias chegaram?
-Ainda não. Estou aguardando. Olá Euzébia!
-Oi seu Antônio como vai à família?
-Bem minha santa.
-Que bom!
-Olhe quem está aqui filha! – disse Antônio para Euzébia.
Euzébia olhara para o seu lado esquerdo, e vira João e Robert:
-Senhor João! Que bom encontrá-lo! Como está Nayá?
-Está bem querida.
-Quem é este jovem?
-É Robert.
-Prazer em conhecê-lo – e estendera a mãozinha para o jovem.
-Igualmente – e Robert a beijara respeitosamente as costas de sua mão direita.
-Este é Horacio – disse o Velho para o jovem.
-Prazer em conhecê-lo rapaz.
-Igualmente.
-Bem, vocês já sabem do casamento da minha filha não sabem? – disse Horácio para Robert e João.
-Sim sabemos – respondeu o Velho.
-Pois bem, vocês não deixem de ir certo?
-Tudo bem, iremos – disse o Velho.
-E Nayá como está João? – perguntara Euzébia mais uma vez.
-Está bem senhora.
-Não deixe de levá-la ao meu casamento.
-Tudo bem – respondeu o Velho.
E, olhando para o relógio de bolso, Horacio despede-se de João e Robert, e seguiu com Euzébia o caminho de casa.
Ao receber as compras de Antônio, João e Robert se despedem, e voltam para velha casa de madeira.
No meio do caminho, uma linda cena da natureza. Em uma velha goiabeira, dois sanhaços alimentavam-se com graça; o fruto da velha árvore.
A brisa fortalecendo-ia, levantando a poeira da estrada de terra, que estava seca. Bem ao longe, via-se uma linda fazenda, bem conservada; muitas plantações e uma enorme mansão; defronte ao jardim de flores de diversas. Inúmeras palmeiras enfileiradas formavam um lindo corredor natural; dando aspecto de um lugar “sagrado”. Mais ao fundo, cabeças de gados, e uma extensão enorme de campos verdes; e um lago enorme, completando-a bem ao fundo, com aves, árvores e animais; que os pais de Manoel criaram na propriedade. Alguns ex-escravos trabalhavam na propriedade, em troca recebiam alimentação e moradia. Este local é a fazenda de São Vicente dos Milagres, futura morada de Euzébia e Manoel.
Achei interessante este blog e a história tb
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